Ementa:
A ficção científica é hoje um gênero multimidiático, com manifestações que extrapolam o campo literário, invadindo os territórios do cinema e audiovisual, música, teatro e games. Sua origem mais moderna está em autores como Mary Shelley, Edgar Allan Poe, Jules Verne e H. G. Wells, e sua consolidação enquanto gênero se deu com a proliferação da pulp fiction nos EUA notadamente por meio do trabalho pioneiro do editor Hugo Gernsback, o qual, a partir de 1908, publicou a revista Modern Electrics que em seguida viria a se tornar a primeira revista do mundo exclusivamente dedicada à ficção científica, Amazing Stories, fundada em 1926. Foi nas páginas de Amazing Stories que Gernsback cunhou o termo scientifiction ("cientificção"), antes de se decidir pelo termo definitivo: science fiction (literalmente, “ciência-ficção”, porém geralmente traduzido em português como "ficção científica"). À frente de diversas publicações dedicadas à ficção científica, Gernsback descobriu autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, entre muitos outros. O cinema de ficção científica, em sua versão prototípica, nasce tão logo a tecnologia cinema é disponibilizada ao grande público, sendo que narrativas futuristas ganham destaque ao longo de todo o período das vanguardas cinematográficas (especialmente entre os anos 1920 e 30), com obras seminais como Aelita (1924), de Yakov Protazanov, ou Metropolis (1927), de Fritz Lang. O chamado boom de filmes de ficção científica dos anos 1950, nos EUA, contribuiu decisivamente para a popularização do gênero (BAXTER, 1970). Em retrospecto, podemos observar que boa parte dos cineastas-autores mais celebrados em toda a história do cinema já se aventuraram no gênero ficção científica em algum momento de suas carreiras – lembremos de Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Chris Marker, Peter Watkins, Jean-Luc Godard e François Truffaut, entre muitos outros. No Brasil, Nelson Pereira dos Santos e Walter Lima Jr. dirigiram longas-metragens de ficção científica. A Nova Hollywood do final dos anos 1970 colocou o cinema de ficção científica definitivamente na primeira linha dos grandes estúdios e entre os maiores sucessos de bilheteria lançados ano a ano. Atualmente, o imaginário ou iconografia de ficção científica está presente não só na literatura ou em produtos de mídia da indústria cultural, mas também na moda e no comportamento, perpassando diversos setores da cultura e cotidiano. Com tudo isso, já há algum tempo o estudo da ficção científica tem se revelado ferramenta esclarecedora para se compreender e analisar o mundo contemporâneo (FIKER, 1985). Esta disciplina tem por objetivo oferecer um panorama teórico e historiográfico com foco sobre a ficção científica audiovisual, dos primórdios do cinema aos dias atuais.
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